8 de novembro de 2010

“Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva”. Dt 32.2



No canto de minha escrivaninha há um bilhete, amarelando lentamente e enrugado
pelo tempo.
É um cartão mandado por minha mãe, contendo apenas quatro frases, mas com
impacto suficiente para mudar minha vida para sempre.
Nele, ela elogia, sem restrições, minhas habilidades como escritora. Cada frase está
cheia de amor, oferecendo exemplos específicos do que minha atividade significou para ela e meu pai.
A palavra "porém" nunca aparece no cartão. Entretanto, a palavra "e" está lá quase
meia dúzia de vezes.
Sempre que o leio - o que acontece quase todos os dias e lembro-me de perguntar a
mim mesma se estou fazendo a mesma coisa por minhas filhas. Perguntei-me quantas
vezes eu disse "mas" a elas e a mim mesma, afastando-nos da felicidade.
Odeio dizer que foi com mais freqüência do que eu gostaria de admitir.
Ainda que nossa filha mais velha normalmente só tirasse dez em seu boletim, nunca
houve um semestre em que pelo menos um dos professores não sugerisse que ela falava demais em sala de aula. Eu sempre me esquecia de perguntar-lhes se ela estava melhorando quanto ao controle de seu comportamento, se seus comentários contribuíam para a discussão em andamento ou encorajavam um aluno mais calado a falar. Em vez disso, eu ia para casa e a cumprimentava:
"Parabéns! Seu pai e eu estamos muito orgulhosos de suas realizações, mas será
que você poderia tentar baixar o tom em sala de aula?"
Mas, mas, mas.
Ao contrário, aprendi com minha mãe que, se você quer realmente que o amor flua
para seus filhos, comece a pensar "e, e, e...".
Por exemplo: "Toda a nossa família estava junta no jantar de Natal, e Kyle conseguiu
ficar craque em seu novo jogo de computador antes que a noite tivesse terminado", "O time de hóquei ganhou e Mike fez o melhor que pôde durante todo o jogo", "Amy é a Rainha da Primavera e ela vai estar linda!".
A verdade é que "mas" não nos faz sentir bem e "e" faz. E quando falamos de nossos
filhos, sentir-se bem é o que temos que fazer. Quando se sentem bem a respeito de si
mesmos e do que estão fazendo, fazem ainda mais, aumentando sua autoconfiança, seus critérios e as conexões harmoniosas com os outros. Quando tudo o que dizem, pensam ou fazem é qualificado ou desprezado de alguma maneira, sua felicidade azeda e sua raiva aumenta.
Isso não quer dizer que as crianças não precisam ou não irão corresponder às
expectativas de seus pais. Precisam e vão, independente dessas expectativas serem boas ou ruins. Quando essas expectativas são consistentemente inteligentes e positivas e então são ensinadas, modeladas e expressas, coisas inacreditáveis acontecem.
Se quisermos diminuir o som da violência em nossa sociedade, teremos que aumentar o volume da atenção, do elogio, da orientação e da participação no que é correto para nossos filhos.
"Chega de mas!" é o toque de chamada para a felicidade. Também é um desafio, a
oportunidade fresca diante de nós, todos os dias, de concentrarmos nossa atenção no que é bom e promissor a respeito de nossos filhos e de acreditarmos de todo o coração que eles, eventualmente, serão capazes de ver o mesmo em nós e nas pessoas com quem, no final,irão viver, trabalhar e servir.
E, se algum dia eu me esquecer, tenho o bilhete de minha mãe para lembrar-me.

Uma semana abençoada para vc...

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